Universo paralelo, parte I

Infelizmente, dessa vez não dá pra dizer que "não sei porque isso está acontecendo comigo", como em todas as outras vezes. E eu não sei se é mais cruel passar horas perscrutando as causas de minhas aflições ou ruminando essas mesmas causas, em uma busca desesperada de um perdão. É que tem coisas na vida que simplesmente são imperdoáveis, e essa descoberta pode ser uma das mais dolorosas de sua vida. Cuidado para não cometer erros desse tipo.

Mas acho que é justamente porque meu erro é tão imperdoável que encontrei, de alguma forma, um meio de me conformar com ele. Não vou esquecê-lo, nem tampouco sei se conseguirei me perdoar um dia, mas vou levando a vida de um modo surpreendentemente leve e fácil. Eu nunca tinha conseguido acreditar nessa história de que, às vezes, o cérebro procura bloquear lembranças dolorosas, mas começo a acreditar que isso esteja acontecendo comigo. Só em alguns lapsos, em alguns momentos rápidos, nos quais é inevitável o fluxo negativo de devaneios, relembro o quanto minha vida continua pelo avesso, mais que em qualquer outro momento de minha "história", se é que tenho alguma.

Talvez por querer me sentir menos culpada, às vezes encontro motivos pelos quais eu poderia me perdoar. Afinal, eu finalmente agi. Eu fiz alguma coisa. Não fiquei mais naquela posição frustrante, passiva, submissa. Eu lutei, como sempre sonhei em fazer, pelo que eu acho que é certo, e continuo convicta dos motivos que me levaram a fazer o que fiz. Eu faria tudo de novo. Posso ter errado no jeito que levei as coisas, mas eu não poderia esperar nada excepcional, quando foi minha primeira tentativa. É, tentativa, fazer o quê. Eu tentei, falhei de um jeito irreversível, estou arcando e vou arcar com várias conseqüências, mas acho que dessa vez aprendi. Eu ainda estou disposta - provavelmente mais que nunca - a batalhar por meus valores, já sei melhor (porém não completamente) a forma como eu posso lidar com isso.

Nem sempre consigo de fato aceitar esse raciocínio. Ou existe algo de realmente errado nele, ou é apenas minha culpa que não me permite encontrar saídas. E como é morbidamente desgastante refletir sobre isso, meu cérebro simplesmente voa para outros mundos, outras histórias, outras pessoas. Ultimamente, se paro para pensar em mim mesma, é para me sentir mal. Então, por que perder tempo com isso? Eu me perco, isso sim, em histórias, personagens que criei ou conheci, uso minha imaginação para o que é útil e para o que não é, e assim fujo da realidade, vou pra bem longe dela - já que não posso, fisicamente, realizar esse desejo.

Só tenho medo do quão grande vai ser minha queda, quando eu for obrigada a voltar e encarar os fatos.

2 moscas:

Rafael 1 de janeiro de 2010 às 21:30  

Somos humanos,logo erramos. Considero a perfeição feia,abra mão da isegurança que insiste em gritar ao seu ouvido como um diabinho de desenho animado e passe a não se preocupar tanto com esse tipo de coisa. Somos todos imperfeitos,você tem que colocar isso em sua mente, até aquela pessoa que,por ventura, você venha a pensar que[por algum tipo de ilusão ou sentimento] seja 'menos imperfeita', sinto dizer, mas ela não é. Acho melhor parar por aqui,não sei se eu ajudo mais do que atrapalho oO.

Flofa 18 de janeiro de 2010 às 12:11  

Embora todo mundo saiba disso, às vezes é difícil admitir que não somos perfeitos. Ou melhor, às vezes é difícil admitir o tamanho de nossa imperfeição. Por mais que digam que devemos nos perdoar, porque somos cheios de defeitos, às vezes usar só isso como pretexto para o auto-perdão soa mais como uma desculpa boba, uma tentativa de tirar a culpa de cima da gente. Tem coisas que são imperdoáveis, sim, principalmente quando estamos falando em perdoar a nós mesmos. Não é tão difícil ser compreensivo com os outros, quando temos que lidar com nossa consciência e com as lembranças de tudo que já fizemos de errado. Pelo menos comigo, é assim...

O Mosqueiro

Alguns comentários desinteressantes sobre uma vida sem-graça e totalmente repetitiva.