Jaula

Tenho pena de nós mesmos, de todos nós. Vivemos nessa utopia de que duas pessoas podem se amar para sempre, que a felicidade existe, que a família é o nosso lugar de aconchego, de carinho e de paz. Não dá pra entender como tanta gente ainda acredita nessa baboseira, não dá mesmo. Todo mundo tem defeitos, e todo mundo idealiza os outros como se eles fossem perfeitos, talvez como forma de esquecer suas próprias imperfeições. Ninguém consegue realmente lembrar de dinheiro, de cobranças, de velhice, de doença, na hora de dizer o famoso "sim". Nessa hora, é tudo flores, tudo véu, grinalda, vestido branco, festa, sorrisos, viagens e lindos planos para o futuro. No fim, dá tudo em merda. Ah, tem gente que tem mais paciência, ou que é simplesmente mais submisso, mais besta mesmo, e consegue engolir sapo pela vida inteira. A única diferença, agora, é que tem gente que cresceu com uma coisa chamada amor-próprio em quantidade o suficiente para não aceitar mais isso. Se isso é bom ou ruim, não me perguntem.

Só sei que é tudo mentira. É só uma jaula de pura tortura em que todos nós somos obrigados a crescer e viver, em nome de uma suposta felicidade obtida através de uma ainda mais irreal harmonia e aceitação do outro. Isso não existe. Não adianta o que me digam, não existe. É só uma finalidade que inventaram pra deixar tudo mais bonitinho e enfeitado, só pra disfarçar os animais abomináveis que somos de verdade. Eu preferia ter nascido como uma formiga, ou um cachorro, uma lesma, uma barata, sei lá. Pelo menos eles não são tão asquerosos.

O Mosqueiro

Alguns comentários desinteressantes sobre uma vida sem-graça e totalmente repetitiva.