Mundo de caixinhas


Tudo bem, eu sei que disse que só postaria aos domingos, mas deu na telha falar aqui hoje o que eu andava pensando há uns 5 minutos atrás.

Essa minha mania de falar o que vem na telha é bem problemática, às vezes... Principalmente quando o que eu falo tem algum conteúdo crítico, e ainda mais quando o objeto da crítica é algo do que meu interlocutor gosta. Acho que acabo sendo cruel. Mas sempre percebo isso só depois de já ter falado, afinal, eu sou aquele típico exemplo de quem fala sem pensar. E o que é mais irônico e paradoxal é que isso acontece com muito mais freqüência justamente no pior dos casos, que é o que já falei: quando critico algo. Acho que isso pode ser justificado pelo fato de que "criticar" é algo meio que novo para mim, daí eu acabo me empolgando quando percebo que "ah! Eu tenho uma opinião a dar!", e me desembesto falando (já falei como eu adoro gírias nordestinas?). Sério, eu realmente penso que seja isso. Já devo ter ofendido alguém com esse vício estranho (mais um pra minha lista).

O que me fez pensar em outras coisas. Eu sempre vinha reclamando que não tinha senso crítico nenhum, e outras pessoas repetiam o mesmo para mim, e acho que, finalmente, desenvolvi algum. Mas não sei mais se eu devo ficar feliz por isso. Por que eu queria criticar as coisas, a propósito? Provavelmente, de início para evitar torrar meu cérebro com coisas ruins demais. Tipo, sei lá, a novela dos Mutantes (perdão a quem gostava). Mas não sei, hoje em dia é como se tivesse algo além disso, como se eu precisasse o tempo todo mostrar a mim mesma o quanto sou capaz de avaliar algo. Talvez seja simplesmente uma forma meio desesperada de tentar me sentir meio que superior, inteligente ao menos. Não que, conscientemente, isso me passe à mente quando critico algo, na verdade a crítica, em alguns aspectos, já me vem naturalmente, e não simplesmente porque eu quero criticar. Só que o que eu venho ponderando é acerca dos benefícios e malefícios que isso trouxe a mim. Por um lado, vem o que é óbvio e já em parte citado, que qualquer pessoa "cult" ou "pseudo-cult" (até pra isso tem rótulo, né...) reitera com paixão, e que acho não ser necessário repetir aqui; mas posso pontuar, à distância, a importância de analisar as coisas e ter opinião própria, etc. Por outro lado, até que ponto isso realmente vai me fazer ter acesso a coisas melhores? Quantas coisas boas, ou quantos bons aspectos de coisas que menosprezo, me passam despercebidas, simplesmente porque não me dou mais ao trabalho de olhá-las? Aliás, alguém me explica o que porra é algo “bom”, porque eu não sei.

O que quero dizer é que criticar, não criticar, pff, tanto faz, isso é só uma parte da história. Acho que, antes, o mais importante é o sentimento que algo traz para nós. Por exemplo, vivo falando sobre o filme "Crepúsculo" com as pessoas, mesmo sabendo que ele faz um sucesso enorme e que há o risco de a pessoa com quem estou falando ter gostado dele, enquanto eu o considerei claramente mal-feito, tosco, ridículo, e o único sentimento que desenvolvi perante ele foi raiva, repulsa. Mas isso não faz dela uma pessoa de “mau gosto”, nem de mim uma pessoa “culta”, e ter gostado do filme não é nenhum sinal de incapacidade intelectual de criticar algo. Tenho certeza de que qualquer um, com ou sem esforço, poderia ver os erros desse filme, como eu, de alguma forma, consegui, mas talvez isso simplesmente não seja o que importa para eles. E o que há de errado nisso?

Não estou falando nada mais que o óbvio. Isso aqui é mais como um desabafo para mim mesma. No fim, até mesmo essa minha busca pela construção de um espírito crítico não passa do velho clichê do “encaixar-me em algum lugar”. Gosto mais de pensar em “encaixotar-me em algum lugar”. Em alguma dessas caixinhas que estão por aí. Emos. Metaleiros. Surfistas. Patricinhas. Nerds. Cults. Pseudo-cults. É tudo farinha do mesmo saco. Há até aqueles que dizem “abstenho-me de rótulos” e vão viver a vida... indie... deles por aí. Não adianta. Sempre tem alguma caixinha pra entrar. As pessoas sempre vão TE encaixar em uma delas, nem que você não queira. Cansei de ouvir que pareço uma emo. Ou que sou nerd. Já até me chamaram de cult, embora eu seja muito mais puxada para o pseudo-cult. Nem sequer sei se as coisas que leio e assisto são lidas e assistidas pelo simples fato de que gosto dela ou porque eu estou tentando tirar delas algum proveito, algum aprendizado de mude meu comportamento e minha imagem perante outras pessoas. Será que gosto mesmo do que “gosto”? Mas por que eu gosto? Como eu poderia sequer falar que não gosto de rótulos, se estou constantemente pensando se aparento pertencer a um do qual não goste?

Acho que estou bêbada. De sono mesmo, certamente.

A imagem de hoje veio novamente do Mostra al Grand.


(Eu devia parar de escrever esses textos estranhos. Ou, pelo menos, não mostrá-los a ninguém.)

O Mosqueiro

Alguns comentários desinteressantes sobre uma vida sem-graça e totalmente repetitiva.